Estudo traça potencial da América para usar agropecuária sustentável para reduzir aquecimento global
23/11/2024
Artigo com participação de pesquisadores da USP de Piracicaba aponta possibilidade de mitigar 40% das emissões de gases do efeito estufa com práticas para sequestro de carbono.
Plantio sustentável tem papel importante na redução do efeito estufa
Maurício Cherubin
Um estudo com participação de instituições brasileiras e estadunidenses traça o potencial da América para reduzir o aquecimento global por meio de práticas sustentáveis na agropecuária.
Segundo o levantamento, é possível reduzir em até 40% a emissão de gases do efeito estufa com a adoção de práticas como plantio direto, recuperação de pastagens degradadas e sistemas integrados de produção em 30% das áreas agrícolas.
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O artigo “Carbon farming in the living soils of Americas” ("Agricultura de carbono nos solos vivos das Américas") foi publicado na revista científica Frontiers in Sustainable Food Systems simultaneamente à realização da 29ª Conferência das Partes (COP 29), em Baku, no Azerbaijão, onde também são discutidas as mudanças climáticas.
O trabalho é assinado pelos pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON/USP), Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA), e da Ohio State University (OSU).
A seguir, entenda a relação entre solo e aquecimento global e as conclusões do estudo:
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Qual é a relação entre solo e clima?
Segundo os pesquisadores, o solo é essencial para a manutenção da vida. Além da produção de alimentos, contribui para a purificação de água, promoção da biodiversidade, neutralização de poluentes e regulação do clima.
A relação com o clima se dá principalmente pelo sequestro de carbono orgânico, processo pelo qual as plantas removem o dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera e mantém no solo por meio de resíduos orgânicos que são depositados nele. O CO₂ é o principal gás causador do efeito estufa - causador do aquecimento global - na atmosfera.
Em sistemas naturais, a falta de intervenções humanas faz com que essa manutenção do carbono orgânico no solo não sofra alterações. Já nos sistemas agrícolas, por outro lado, a frequente adoção de práticas de produção diferentes reduz esse armazenamento de carbono no solo e ele acaba se dispersando pela atmosfera.
Por isso, a avaliação dos impactos das práticas de produção agropecuária é importante para mitigar os impactos das mudanças climáticas.
Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH), desenvolvido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural
Epagri/Divulgação
Quais são as práticas mais sustentáveis?
Ações como o plantio direto, recuperação de pastagens degradadas e sistemas integrados de produção agropecuária são amplamente reconhecidas pelos acadêmicos como práticas que apresentam potencial para promoção de sequestro de carbono no solo.
De acordo com os pesquisadores, a ampla adoção destes sistemas pode representar uma grande oportunidade para que sistemas agrícolas possam atuar contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.
"Nas Américas (América do Norte, Central, Sul, região Andina e Caribe), a área ocupada por sistemas agrícolas é estimada em aproximadamente 1,11 bilhão de hectares. Todavia, embora tal área represente um grande potencial para a expansão em larga escala de boas práticas de manejo, pouco se sabe a respeito do impacto da adoção destas diferentes práticas de manejo sobre os níveis de carbono do solo nessas diferentes regiões", apontam os autores.
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Fabiano Bastos/Divulgação
O que aborda o estudo e como ele foi feito?
O trabalho foi baseado em uma revisão da literatura disponível sobre o tema, onde mais de 13 mil trabalhos foram revisados.
"[O objetivo foi] entender qual a disponibilidade de informações relacionadas ao impacto da adoção de boas práticas de manejo na agricultura sobre a dinâmica de carbono do solo nas Americas, bem como estimar o potencial de sequestro de carbono perante a adoção de práticas potenciais em larga escala”, explica Carlos Eduardo Cerri, professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq/USP e coordenador do CCARBON/USP.
Qual pode ser o impacto da produção sustentável?
De acordo com Maurício Cherubin, também professor do Departamento de Ciência do solo da Esalq e vice-coordenador do CCARBON/USP, a adoção das práticas sustentáveis em 30% da área agrícola das Américas reduziria cerca de 40% das emissões de gases do efeito estufa originados do setor agropecuário por 20 anos.
"Estes resultados são muito promissores, e ainda pode ser maior em função da adoção de práticas mais eficientes para a promoção de sequestro de carbono, e/ou mediante o aumento da área com adoção de boas práticas", destacam os acadêmicos.
Para o diretor de Cooperação Técnica do IICA, Muhammad Ibrahim, o estudo é relevante para dar subsídios aos diferentes países e regiões do continente na definição de programas e compromissos de enfrentamento das mudanças climáticas.
Maurício Roberto Cherubin, professor doutor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq
Gerhard Waller
O que já se sabe a respeito desse efeito positivo?
O estudo destaca que é necessário produzir mais dados científicos para reduzir as incertezas a respeito dos impactos positivos do sequestro de carbono do solo em relação às mudanças climáticas, principalmente na América Central, Caribe e região Andina.
O trabalho indicou a necessidade da padronização dos protocolos que definem a amostragem analisada durante as pesquisas, incluindo minimamente a camada de 0 a 30 centímetros do solo, e preferencialmente camadas mais profundas (até 100 centímetros).
Segundo os autores, a padronização das informações coletadas é um passo importante para o refinamento das informações disponíveis, essencial para a redução das incertezas.
Apesar das limitações encontradas, os pesquisadores destacam que os resultados obtidos representam um passo importante para direcionar a aplicação de recursos necessários para ampliar as iniciativas de monitoramento, além de priorizar as áreas onde a disponibilidade de informações ainda é baixa.
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